O empresário Wilson Poit fez sua empresa de aluguel de geradores, a Poit Energia, triplicar de tamanho desde 2006 – para isso valeu até improvisar no portunhol para se aproximar de Hugo Chávez
Por Denise Carvalho | 29.03.2010 | 08h50
A reunião entre a missão comercial brasileira liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, realizada na noite de 20 de agosto de 2009 no palácio Miraflores, em Caracas, tinha tudo para correr conforme o script. Após uma série de discussões envolvendo parcerias entre os dois países, Chávez pretendia encerrar o encontro da maneira protocolar de sempre: isolado por seguranças e distribuindo autógrafos aos 90 membros da delegação verde-amarela. Mas eis que, no final da reunião, um empresário brasileiro conseguiu furar o bloqueio e agarrar o braço do cada vez mais impopular presidente venezuelano. “Comandante, yo soy la solución para su apagón!” (sic), disse o paulista Wilson Poit, num portunhol improvisado. Aos 51 anos, o engenheiro Wilson Poit é fundador e presidente da Poit Energia, maior empresa brasileira de aluguel de geradores. “Martes”, respondeu Chávez inesperadamente, referindo- se a um possível encontro na terçafeira, quatro dias mais tarde.
Wilson Poit não é exatamente um admirador do regime de Chávez. Mas é um homem de negócios pragmático. Seu plano é ficar com parte de um fundo de 1 bilhão de dólares criado pelo governo venezuelano para fomentar parcerias com empresas do setor de infraestrutura. O momento não poderia ser melhor. A Venezuela de Hugo Chávez é vítima frequente de vários apagões energéticos de intensidades variadas. O atrevimento de Poit rendeu-lhe quatro reuniões com a estatal do petróleo PDVSA, a Corporación Electrica de Venezuela e a Cadafe, empresa estatal de energia. “Quando Chávez me respondeu, eu nem sabia o que martes significava”, diz ele.
O episódio protagonizado por Wilson Poit e Chávez é um exemplo de seu estilo de gestão – informal e totalmente “mão na massa”. Para manter sua empresa crescendo 45% ao ano desde 2006 (enquanto o mercado cresce cerca de 10%), Wilson Poit tem buscado oportunidades para fornecer eletricidade em regiões remotas do planeta, geralmente desprezadas pelas grandes concessionárias de energia. Além da quebra de protocolo na Venezuela, suas viagens de negócios incluem uma gélida jornada de 1 500 quilômetros pelo sul do Chile, em 2006, para instalar 55 geradores em vilarejos a 1 000 metros de altitude na cordilheira dos Andes. Por causa da neve, cada equipamento, de cerca de 1 tonelada, precisou ser carregado por trenós puxados por bois – numa operação coordenada pessoalmente pelo empresário. No ano seguinte, Wilson Poit embrenhou-se em pântanos do Mato Grosso para restabelecer a energia elétrica na cidade de Lambari d’Oeste depois que uma enchente arrastou quatro torres de linhas de transmissão. A situação era tão caótica que o diesel que abastece os geradores precisou ser transportado por tratores emprestados por fazendeiros da região. Sua mais recente empreitada é a instalação de escritórios para prospecção de negócios em países da África, como Angola, Moçambique e a problemática Namíbia, assolada por guerras tribais. É esse caráter desbravador que explica, em grande medida, a conquista de clientes como Vale, Siemens, Alcoa, CSN e Andrade Gutierrez. “A estratégia de Wilson Poit consiste em crescer a reboque da expansão dessas empresas”, diz Victor Baéz, sócio da Heartman- House, consultoria especializada em planejamento estratégico.
Filho de agricultores de arroz na cidade de Rinópolis, no interior paulista, WilsonPoit trabalhou desde cedo para garantir sua independência. Aos 14 anos, vendia batatas aos clientes que frequentavam o armazém de seu pai. De bico em bico conseguiu juntar dinheiro para pagar o curso pré-vestibular em São Paulo, para onde se mudou em 1976, aos 17 anos. Formou-se engenheiro elétrico pela Faculdade de Engenharia Industrial, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Depois de desfazer a sociedade em uma pequena empresa de engenharia, em 1998, fundou a Poit Energia, dedicada ao aluguel de geradores. Com o apagão brasileiro em 2001, o negócio ganhou fôlego. “Até então, estávamos habituados a fornecer um ou outro equipamento”, diz ele. “Subitamente, começamos a receber pedidos de companhias que queriam alugar 20 ou 30 geradores de uma vez.”
O maior salto, porém, veio em 2006, com o fechamento de contratos para o fornecimento de aproximadamente 50 geradores para a Vale e a Petrobras. “Essas empresas foram a nossa maior vitrine”, diz Wilson Poit. “Desde então, mais do que triplicamos o tamanho.” Hoje, a Poit Energia é a quarta maior locadora de geradores do país, com faturamento de cerca de 60 milhões de reais em 2009 – para este ano a previsão é chegar perto de 100 milhões. O rápido ritmo de crescimento nos últimos dois anos chamou a atenção da BRZ, braço de investimentos do grupo GP para pequenas e médias empresas. Um de seus fundos adquiriu em 2008 uma fatia de 35% da empresa, por 40 milhões de reais.
Ao prospectar negócios em regiões inóspitas, como a Namíbia ou os Andes, Poit tenta não somente dar fôlego novo à companhia que fundou mas também garantir sua sobrevivência num mercado em franca consolidação. Hoje, o setor de locação de geradores no Brasil é controlado por apenas três empresas: a holandesa Aggreko e as americanas Caterpillar e Cummins. Juntas, elas detêm 40% do mercado – ante 9% da Poit. “A Poit é a única que poderia se tornar um diferencial para as grandes companhias desse mercado”, diz um consultor que acompanha o setor. Até agora, a Aggreko foi a única a formalizar uma proposta – rechaçada – de compra da Poit. “Nossa prioridade, pelo menos por enquanto, é abrir o capital da empresa”, diz Wilson Poit.
Wilson Poit, presidente da Poit Energia
Idade: 51 anos;
Nascimento: Rinópolis, no interior de São Paulo;
Formação: Engenharia elétrica pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), de São Bernardo do Campo;
Carreira: Trabalhou como trainee em empresas de engenharia entre 1981 e 1984, quando fundou uma prestadora de serviços em projetos elétricos. Em 1998, criou a Poit Energia, hoje a maior empresa brasileira de locação de geradores e equipamentos de infraestrutura;
Maior tacada: Vendeu 35% da Poit em 2008 para a BRZ, da GP Investimentos, por 40 milhões de reais.